quinta-feira, 31 de maio de 2007

Flores de ontem

Algo barato.
Um cheiro barato.
Uma barata e a sola de um sapato.
Um rato.
Uma rata.
As vezes uma errata.
Uma mosca.
Na mosca.
Como canta Paulinho Moska.
Um encanto.
O seu canto.
O meu canto.
Um canteiro-lugar,
aquilo que não lhe enviei.

quarta-feira, 30 de maio de 2007

citoplasma

beleza fora da mesa
fora do centro da certeza
a beleza de um erro

terça-feira, 29 de maio de 2007

A visibilidade da ética

Breve pesquisa no sítio da livraria Cultura e ta lá: 114 títulos encontrados pelo autor ALVES, RUBEM. Já li um ou outro. Mas não é esse fenômeno de publicação que me faz falar de ALVES, Rubem. É antes o que ele escreveu em sua coluna do Jornal Folha de São Paulo de hoje. Lá discute a ética do anjos e a ética dos homens. Quer mesmo cutucar com vara curtíssima a igreja católica, mas esse é um problema dele. O meu é tentar pensar aqui alguma coisa que atravesse esse modo Rubem de colocar o problema.
A intenção do escritor é contrapor o mundano ao celeste e dizer da opção do Papa Bento 16 pelo céu. Entretanto seu artigo é curto, rápido e a gente fica sem saber se o mundano é imperfeito por natureza ou se nossos males são obras da história das relações miúdas e interesses privados e pequenos.
Diz ele: “A revelação desce de cima, é divina e completa. A igreja raciocina de cima para baixo, dedutivamente. Quem tem a revelação não precisa investigar. A experiência, ao contrário, começa de baixo, é humana, sem certezas. Mas está decretado que pensar a partir da experiência é heresia. Roger Bacon (século 13), um dos precursores da ciência, amargou 15 anos na prisão por afirmar que o conhecimento vem pela experiência”.
Pensar a experiência é que há de bom, já que não se pensa o conselho. É um caso de aceitação ou negação. Já com a experiência é diferente. Ela não se repete. Daí a ética aparecer nessa conversa.
A ética há de fazer referência a experiência, mas qual? Devo pensar a minha experiência, a experiência alheia ou a experiência com o outro. Em que lugar a experiência pode ser pensada? Em que momento ela se dá ao inusitado que o pensamento produz? Ética: há que se falar muito nisso ainda, sem que cada mundinho perca seu sono intraquilo por esses universos de ninguém.

Artigo do Rubem Alves no http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2905200704.htm

segunda-feira, 28 de maio de 2007

As chaves do Chávez



Divagando sobre um meu Flamengo que não consegue perder para o Botafogo, percebo-me sonhando com a Venezuela e as chaves que o Chávez apresenta ao mundo. Sou fã do Chaves Sem Querer Querendo - o melhor do SBT - e ando nutrindo alguma admiração pelo Chávez Hugo de si. Não é que ontem o homem lacrou a Globo de lá.
Pelas Globos ainda no ar, vejo o acontecimento remoer nas entranhas dos apresentadores e repórteres. Homens de preto e cinza gritam pela liberdade que se perde, como gritavam quando o Saddan ainda saddanizava nas areias do Iraque. Está melhor hoje a vida lá. Vai saber, mas quem pergunta? Não perguntam também na Venezuela. Mostram supostos artistas a chorar e a lamentar o tal impedimento. Vale lembrar que lá como aqui, o direito de teletransmissão é concedido pelo bem público. Quem já propõs plebiscito para ver quem fica no ar por aqui. Nunca escutei tal proposta. Não se fala disso por aqui.
Bom, não falam pois esses jornalistas-apresentadores são antes atores. Representam uma ideia de idoneidade jamais posta em questão. É como se a justiça se reinventasse a cada dia e em cada sílaba que cospem para a câmera que lhes mira. Ali estaria a essência da verdade que não se permite respirar além da telinha. Hábito é uma mer........cadoria preciosa.
Nem todos são picaretas, mas todos trabalham agudamente pela manutenção da crônica dos mundinhos mumificados, presos ao controle remoto de teclas limitantes e limitadas. Poderiam eles ou poderíamos nós aprender a lição de que quem fala só e para si, um dia verga ao próprio discurso. Caí pra dentro, para onde sempre olhava. Mas aí são muitas cifras, cardápios raros e mesas reservadas para muito poucos. Abraço gente!

domingo, 27 de maio de 2007

contemporâneo

De manhã; bom dia
agora de tarde
pode ser tarde

sábado, 26 de maio de 2007

Sobre a filosofia barata

Não há muito que dizer sobre uma filosofia barata. Talvez que a filosofia barata se assemelhe a um pensamento qualquer, sem jamais se reduzir a ele. Não é uma filosofia 1,99. É uma filosofia barata. Seu preço não agrega mais-valia. É a justa medida, tão somente. Não é também uma filosofia inocente, pois tem preço. Preço sem mais-valia. Como isso é possível? Simples; a filosofia barata é uma categoria de expressão de um pensar sem destinatário específico. Algo que não se faz para o consumo, mas que pode vir a ser consumida por qualquer um. A paga é o tempo da leitura. Só isso. A filosofia barata busca a desvalorização do sentido. Nem tudo que é sentido, faz sentido. Nem tudo que faz sentido é sentido. Sentidos demais estão à mostra. Os sentidos nos são caros. Essa filosofia é barata por isso. Faça disso um barato, caso lhe interesse!

terça-feira, 22 de maio de 2007

Queda por dentro

ardil que consome a alma juvenil
poeira, poeira, poeira
tivesse o mundo beira...

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Quando nada me falta

Amor eu sinto a sua falta. E a falta é morte da esperança. Como o dia em que roubaram o seu carro,deixou uma lembrança (Nando Reis)


Filosofias ligeiras alimentam o contemporâneo. Coisas para pensamentos rápidos, sentimentos breves e sensações quanto mais intensas melhor. Se já foi pior, não sei. Sei, entretanto, que não gosto de sentir falta do que não tive. Acho que não consigo. Alimentar esperanças parece em vão, mas o que não parece hoje em dia? É preciso alimentar o peixe no aquário, como é preciso se alimentar do peixe do rio. Estranho isso. Esse mine-tanque com esse peixinho satisfeito, andando pelos mesmos lugares dessa caixa de vidro. Não pensa esse peixinho. Sequer cogita a existência do rio, de onde me vem essa tilápia, agora torrada, posta sobre um prato onde já está um punhado de farinha. Algo para tirar o gosto de algum desgosto ou de outro gosto que precisa ir. No aquário isso não passa. O peixe que nada sempre nos mesmos lugares não pensa, não desgosta, não sente sequer sensações intensas. Algumas vezes sinto estar num aquário. Lembro que andei e por onde andei e o aquário desaparece. Parece mágica, mas nada me falta!

sexta-feira, 18 de maio de 2007

Cantiga de roda

ter é o nunca realizado
a margem distraída
percebe-se do outro lado

Eternos e ternos



Uma tarde, após algumas cervejas, não lembro se foram 4 ou 7, fiz uma aposta com Joaquim (aparece na fotografia com o indicador da mão direita apontado para a própria garganta). Tratava-se do resultado para a eleição da diretoria do Centro Acadêmico do curso de Comunicação Social - UFC. Era 1987. Valor da pendenga: duas caixas de cerveja a serem degustadas numa manhã de sábado num boteco especializadíssimo em cervejas que “mofavam” o casco ao serem retiradas do freezer e um feijão verde com queijo coalho, que nem mamãe fazia igual. Como era gostoso aquele feijão. Fortaleza inteira sabia da existência desse bar e já começavam a aparecer imitações do próprio por outros bairros da cidade. Feijão de fulano, de cicrano e por aí iam.
Chegamos no bar que aparece na foto, após participarmos de uma passeata que saíra da Reitoria, no bairro Benfica, rumo ao Centro da cidade. O dia era quente como quase todos os outros.
Naquela época os estudantes universitários militavam por causas estranhas. Quase qualquer motivo dava passeata. Eu andava com uma moçada mais chegada a passear. Passeávamos na passeata. Pelas margens do movimento. Uma espécie de inconseqüência crítica às ordens nas palavras de ordem.
Passados os discursos, íamos para nossa fé própria, discutir rumos do desconhecido por vir. Pois bem. Joaquim, remanescente do PC do B, ao qual eu era oposição, quase sempre provocador, afirma que naquele ano levaria o C.A. para as fileiras comunistas. Eu, quase sempre provocativo, retruco que o anarquismo experimental das gestões passadas não iria vergar a essa investida. Vai cuspe pra lá, cuspe pra cá, cerveja pra dentro e chegamos ao número de 48 cervejas para serem tomadas num só dia.
Marcus, esse que aparece na foto em busca de um brinde com a lente do Jarbas, companheiro da experiência de gestão sem dono nas causas da Comunicação Social, acentua a disputa: “Independente de quem ganhe, eu pago mais uma caixa”. Setenta e duas cervejas alimentaram então o restante da conversa.
Já alegre pelas 4 ou 7 ingeridas, não cheguei a imaginar como pagaria minha parte caso perdesse. Andava muito duro, como quase todos os amigos. Ficamos a conversar sobre a futura festa que viria após a eleição. Novas provocações, o tempo corria e tudo parecia muito bom.
A foto que está no Orkut do Marcus me fez reviver esse dia e encontrar com a poesia do Leminski: “Abrindo um antigo caderno, foi que eu descobri: Antigamente eu era eterno”.
Bom, veio a eleição, veio a festa no bar da Mãe do Valdir e foi um dia também eterno.

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Réstia

a floresta que resta de folha, tronco e flor
é um canto por uma fresta
um sopro triste de uma luz

Deserto

escorre fora da boca
a sede do bem viver
todo mundo quer beber

terça-feira, 15 de maio de 2007

Aborto do aborto do aborto...

O aborto paira nas conversas dos políticos profissionais no Brasil. Quem vai encaminhar o projeto e se tornar midiaticamente o pai do assunto? Lula-pós-Papa anunciou que não vai ser ele o pai do aborto. Fica para o Congresso a missão espinhosa. Talvez uma regulamentação para essa prática tenha que esperar mais. O mundinho religioso não quer ouvir falar no assunto. A economia dos votos que se conta a cada eleição. O fiel na balança é o fiel da balança.De quem é o corpo? De quem é o espírito? De quem é a política? De quem é o germe de gente? De quem é o dogma? Quem vai ser o pai dessa criança-lei-polêmica? Quem tem conversado sobre isso por aí?

segunda-feira, 14 de maio de 2007

Religião

O Papa disse levar saudades do Brasil. Será que deixa? Tirando o mercado e a fé que envolviam segmentos importantes do Brasil nessa visita, acho que essa passagem morre logo na memória das pessoas. Não vai render músicas, nem mesmo um plus na vida do catolicismo nacional. Um Papa fora do tempo em que se sobrevive. Um Papa que busca a fé sobre as coisas, quando as coisas é quem movimentam a fé. Mercado e fé se realizam nas coisas e o Papa não quer enxergar essa realidade. Puxa para a contra-mão. A larga rua de mão única contemporânea, não faz eco ao Papa. Pela mídia, o Papa não deixa saudades e ainda impediu a audiência da monótona vitória do Massa na Espanha. Um desencontro.

sábado, 12 de maio de 2007

minhoca

anjos são para árvores
pecados dão na raiz
escapei por um triz

sexta-feira, 11 de maio de 2007

sobre um mundinho

tropeça na calçada e descalça a menina vai ao chão. não precisa passagem. o chão lhe recebe com a cortesia de sempre. duro, as vezes frio, as vezes morno. o chão nunca é quente. é como se a natureza não quisesse repouso sobre sim. entretanto a gente insiste numa vontade absurda em ficar ali, paralisado pela queda. assim os mundinhos se alicerçam. a tentativa de ser natural como a grama ou o asfalto. o asfalto é natural. como são naturais o plástico e o zinco. tudo bem, um natural desnaturalizado, mas natural. natural por essência, creio. o asfalto não consegue ser outra coisa. natural, claro! pois bem, dado o mundinho, mesmo afetivamente preguiçoso, dar-se a vastidão de uma imaginação recorrente. quase triste. já não é mais menina. agora adolescente, logo moça, mulher-homem, idades e o mundinho vasto. a menina levantou sozinha daquele chão. alguém lhe estendeu a mão, mas não reconheceu a pessoa. algo dela parece ter querido ficar ali para sempre, onde jamais vai se reconhecer de novo.