terça-feira, 5 de junho de 2007

A ocupação de cada dia

Já não há mais gravidade em greves. É uma sensação estranha que tenho, mas é preciso confrontá-la. Faço isso aqui. Para onde foi o medo que uma greve deveria despertar? Não sei. Penso que desapareceu pra dentro de si mesmo. Perdeu seu encanto e com ele a sua força. Mesmo greves em setores que envolvem imediato transtorno à vida das pessoas, já são encaradas com naturalidade. Greve nos transportes públicos, por exemplo, geram problemas para uma cidade de vários modos, mas soam nesses momentos, saídas que a cidade encontra para funcionar de algum modo. Com mais sacrifício, mas sem a paralisação completa.
Não se trata de uma orquestração do capitalismo vil. Trata-se, penso, de um jeito que as pessoas encontram para buscar sua sobrevivência e continuar na sua luta. A luta continua circadianamente. Isso é real!
Assim sendo, já passa da hora de se buscar alternativas à greve como forma limite de administrar uma luta de classe ou de categoria. Os estudantes da USP, com mais de mês de ocupação da reitoria, parecem ter encontrado um veículo extraordinário para fazer aparecer uma voz e suas vontades.
Estão construindo a pauta da sua luta a cada dia. Isso é lindo e vivo. Primeiro protestaram contra o golpe do governador Serra que feria a autonomia universitária. Muitas negociações, mandados de reintegração de posse não cumpridos e Serra volta atrás, passados 28 dias. Era tarde. Perdeu o fio do acontecimento, o governador. A moçada da ocupação soltava pipa com esse fio, fazia bailar na sua imaginação a força que possuíam. Agora querem mais. Precisam querer mais. Descobriram que é fácil querer mais. Como parar?
Não estão em greve. Apenas ocupam aquilo que lhes cabe. Ocupam a cena do viver. Que viva mais essa ocupação e contamine muito mais gente. Afinal se dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço, como sugere a Física, ocupe aquele que lhe cabe. Ocupar é necessário, por que viver é necessário!

Para acompanhar de perto essa ocupação, ligue-se no link
< http://ocupacaousp.noblogs.org/post/2007/06/04/domingo-03-06 >

Um comentário:

Mairla disse...

bom demais ter lido isso aqui, agora.
tava futucando e cliquei em um mês, eis que surge esse post.
apareceu pra mim com taanta paixão o jeito que vc fala dos guris que tava por lá lutando, ocupando, resistindo... que contamina a gente que tá por aqui! que não é distante, mas não estamos lá.
é meio estranho... tem horas que a gente sente fazendo parte disso só pelo fato de ter sido contaminado (ou afetado)e outras em uma distância por não estarmos lá construindo, se mostrando na luta.
gostei. pelo jeito que me pareceu encantador a forma de escrever...
ocupar é realmente necessário. ocupar a cabeça, o coração, o banco da praça, as ruas, as reitorias, os blogs...